11.20.2009

OC Extra: Henrique Oliveira


Confira abaixo a entrevista com o artista Henrique Oliveira.
Fotos retiradas do seu site pessoal. Mais aqui.

Seu trabalho parece ser essencialmente urbano, com referências nos barracos construídos em torno da cidade e nas obras não concluídas. Parece algo provisório que terá um fim próximo. A cidade é uma referência então?

A cidade é a pele do meu trabalho, mas a forma pode vir também de outras referências, da natureza e da arte.
Alguns dos meus trabalhos mais arredondados apresentam volumes característicos da consistência intumescida dos líquidos retidos. Eles podem ser interpretados tanto como uma pressão da ocupação urbana, quanta como regeneração da natureza frente às tentativas de controle desta por parte do ser humano. O uso que faço do material permite essa ambigüidade, a mesma aparência rústica pode significar tanto cascas de árvores como degradação ambiental ou social.
A referência aos barracos está apenas no aspecto visual. Ao contrário dos penetráveis do Hélio Oiticica, por exemplo, onde o acabamento perfeito não tinha nenhuma relação com a aparência das favelas, ficando o foco do trabalho na estrutura de vivência da organização interna destas comunidades, no meu caso a favela é tomada como um aspecto visual da paisagem urbana. É apenas sua superfície que tomo emprestado, pois ao contrário de Oiticica, que viveu a favela por dentro, numa época em que a vida nestes locais era relativamente menos conflituosa, a minha realidade hoje só permite que eu a experimente do lado de fora.
Em outros dos meus trabalhos com madeira, onde há uma vontade pictórica mais explícita, parto de pequenas texturas de tinta a óleo, ampliando-as em grandes relevos escultóricos. São trabalhos onde três noções de pintura se sobrepõem em uma única imagem: O relevo escultórico da textura e do gesto ampliados no espaço arquitetônico; a superfície composta por lascas que sugerem uma segunda instância gestual; e finalmente a cor, que é aplicada como um filtro cromático, mudando os matizes sem alterar os acidentes naturais do material.
A idéia de algo provisório, das ruas, está ligada à concepção dos Tapumes como obras feitas para exposições temporárias. Há um pouco de um desejo de dar visibilidade a um anteparo cuja função é impedir a visão (tapume ver do verbo tapar), transformando-o na forma artística da visão por excelência, a pintura.

Você já teve alguma experiência em intervenção pública já que utiliza madeira em seu trabalho e ela pode ser vista em vários pontos da cidade?

No momento estou com um trabalho na rua, na fachada de um sobrado desocupado. A obra faz parte da Bienal do MERCOSUL e é o primeiro trabalho que faço em um local público a céu aberto. Foi um convite feito pelo curador Artur Lescher para integrar o segmento "Texto Público", com propostas de obras feitas na cidade, o que veio de encontro a um antigo desejo que eu tinha de levar meus tapumes de volta pra rua.

Existe a utilização de materiais usados em sua obra, após a conclusão e mostra é possível uma segunda utilização? Se sim, existe então uma ligação entre as obras ou você não enxerga dessa maneira?

Sempre reutilizei o material, mas com exposições em lugares cada vez mais distantes do meu ateliê, tem sido inviável transportá-lo de volta pra São Paulo.
Quando escrevi minha dissertação de mestrado, falei sobre a possibilidade de se ver a série Tapumes como um conjunto de obras distintas que só ocorrem uma vez e não se repetem mais, ou como uma matéria itinerante capaz de assumir diferentes formas na medida em que migra e se acomoda a diferentes espaços.

Qual o cuidado necessário em obras fixas (que não foram desmontadas) suas? Existe um tempo de vida?

É muito difícil que algum lugar opte em manter uma instalação de forma permanente, até mesmo porque a maioria dos locais onde exponho são destinado às exposições temporárias.
O mais próximo que cheguei disto foi com uma instalação feita na galeria Baró Cruz no início de 2008 e que ainda permanece lá. Até o momento ela não apresentou nenhum problema.
Também tenho feito peças transportáveis no meu ateliê, mas aí a técnica de produção é um pouco diferente. Há mais camadas de madeira que, além de grampeadas, são também coladas umas às outras.

Below the interview with the artist Henrique Oliveira.
Photos taken from his personal site. More here.

Your work seems to be mainly urban, with references in shacks built around the city and work in progress. It seems something temporary that will end next. The city is a reference then?

The city is the skin of my work, but the form can come from other references, the nature and art.
Some of my work volumes have more rounded features of the consistency of liquid retained swollen. They can be interpreted either as a pressure of urban occupation, much as the restoration of nature in the face of attempts to control this part of being human. My use of the material allows this ambiguity, the same rustic look can mean so much bark as environmental degradation or social.
The reference in the shacks is just the visual aspect. Unlike the penetrable Oiticica, for example, where the perfect finish had nothing to do with the appearance of slums, leaving the focus of the work experience in the structure of the internal organization of these communities, in my case the slum is taken as one aspect visual urban landscape. It's just the surface I take borrowed, as opposed to Oiticica, who lived inside the slum, a time when life in these places was relatively less confrontational, my reality now only allows me to try outside.
In other of my works with wood, where there is a will more explicit pictorial, delivery of small textures of oil paint, expanding them into large sculptural reliefs. These are works where three notions paint overlap on a single image: relief sculpture of texture and gesture extended in architectural space, the surface consists of chips that suggest a second body gestures, and finally the color that is applied as a filter color, changing the hue without changing the natural hazards of the material.
The idea of something temporary, the streets, is linked to the design of fences as works made for temporary exhibitions. There is a bit of a desire to give visibility to a buffer whose function is to prevent the vision (see siding covering the verb), transforming it into an art form par excellence vision, painting.

Have you had any experience in public intervention because it uses wood in their work and it can be seen in various parts of the city?

I am currently working with one on the street in front of a house unoccupied. The work is part of the Biennale of MERCOSUR and is the first work I do in a public place open. It was an invitation from the custodian Artur Lescher to integrate the segment "Public Text," with proposals for works made in the city, which came against an old desire I had to take my fences back to the street.

There is the use of materials used in his work after completion and shows you can use a second? If yes, then there is a connection between the works or you do not see that way?

Where the material reused, but with exhibitions in places more distant from my studio, it has been impossible to transport it back to Sao Paulo.
When I wrote my dissertation, I explored the possibility to see the series fences as a set of different works that only occur once and not repeated again, as a matter or traveling can take different forms as it migrates and accommodates itself to different spaces.

What is the care needed in works fixed (which were not dismantled) yours? There is a time of life?

It is very difficult to choose somewhere to keep a facility permanently, even as most of the places where I expose are intended for temporary exhibitions.
The closest it came was with an installation in the gallery Baró Cruz in early 2008 and still remains there. By the time she presented no problems.
I also made transportable pieces in my studio, but then the production technique is a little different. There are more layers of wood, and stapled, are also glued together.

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